Versos de Lamartine
O Espiritismo em Toda Parte

LAMARTINE

Ante as oscilações do céu e do navio, No encapelado mar com suas ondas lentas, Mentalmente o homem dobra um Cabo das Tormentas,E passa sob o raio e sob a escuridade, O trópico a agitar de uma outra Humanidade.

O Siècle de 20 de maio último citava estes versos a propósito de um artigo sobre a crise comercial. Que têm eles de espíritas? perguntarão. Não se trata de almas, nem de Espíritos. Poder-se-ia perguntar, com mais razão, que relação têm com o fundo do artigo, no qual estavam enquadrados, tratando de taxas de mercadorias. Interessam muito mais diretamente ao Espiritismo,porque é, sob outra forma, o pensamento expresso pelos Espíritos sobre o futuro que se prepara; é, numa linguagem ao mesmo tempo sublime e concisa, o anúncio das convulsões que a Humanidade terá que sofrer para a sua regeneração e que, de todos os lados, os Espíritos nos fazem pressentir como iminentes. Tudo se resume neste pensamento profundo: uma outra Humanidade, imagem da Humanidade transformada, do novo mundo moral substituindo o velho mundo que desaba. Os preliminares destas modificações já se fazem sentir, razão por que os Espíritos nos repetem de todas as formas que os tempos são chegados. O Sr. Lamartine aí fez uma verdadeira profecia, cuja realização começamos a ver.

ETIENNE DE JOUY (DA ACADEMIA FRANCESA)

Lê-se o que se segue no tomo XVI das obras completas do Sr. de Jouy, intitulado: Misturas, página 99. É um diálogo entre Madame de Staël, morta, e o Sr. duque de Broglie, vivo.

O Sr. de Broglie – Que vejo! Será possível?

Madame de Staël – Meu caro Victor, não vos alarmeis e,sem me interrogar sobre um prodígio, cuja causa nenhum ser vivo poderia penetrar, gozai comigo um momento de felicidade, que a nós ambos proporciona esta aparição noturna. Como vedes, há laços que a própria morte não poderia cortar. A suave concordância de sentimentos, de vistas, de opiniões, forma a cadeia que liga a vida perecível à vida imortal e que impede que o que esteve longamente unido seja separado para sempre.

O Sr. de Broglie – Creio que poderia explicar esta feliz simpatia pela concordância intelectual.

Madame de Staël – Rogo que nada expliquemos; não tenho tempo a perder. Essas relações de amor que sobrevivem aos órgãos materiais não me deixam estranha aos sentimentos dos objetos de minhas mais ternas afeições. Meus filhos vivem; honram e prezam minha memória, bem o sei. Mas é nisso que se limitam minhas presentes relações com a Terra; a noite que cai envolve todo o resto.

No mesmo tomo, página 83 e seguintes, há um outro diálogo, onde entram em cena várias personagens históricas, revelando sua existência e o papel que representaram em vidas sucessivas.

O correspondente que nos dirige esta nota acrescenta:

“Como vós, creio que o melhor meio de trazer à Doutrina que preconizamos bom número de recalcitrantes é fazê-los ver que o que olham como um bicho-papão, pronto para os devorar, ou como uma ridícula brincadeira, não passa do que despontou no cérebro dos pensadores sérios de todos os tempos, apenas pela meditação nos destinos do homem.”

O Sr. Jouy escrevia no início deste século. Suas obras completas foram publicadas no começo de 1823, em vinte e sete  volumes in-8o, pela casa Didot.

R.E. , janeiro de 1869, p. 42